Crítica AC Odyssey | Saiba Dos Pontos Negativos do Jogo

Danilo Medeiros


Horas extras sem diversão


Completei cerca de metade do segundo capítulo após 10 horas de jogo em Assassin's Creed Odyssey. Amplitude é algo que costuma ser elogiado em jogos, contudo aqui se tornou mais fardo do que diversão. Meu personagem inicial estava com equipamentos e nível baixos demais para enfrentar inimigos da história principal. Fui praticamente forçado a realizar dezenas de missões secundárias repetitivas apenas para conseguir XP e itens para progredir na narrativa central. 


Essas horas extras se arrastavam sem graça. Invasões a acampamentos inimigos, saques a tesouros e assassinatos de capitães se repetiam sem nenhum atrativo, seja na narrativa das side quests ou em suas mecânicas. Faltava variedade e criatividade. A jogabilidade acabava se tornando pura repetição e grinding para progredi horas depois. Chegava a ser tediante ver a quantidade descomunal de horas que o game me exigia jogado apenas para entender a própria história, sem contar platinar todos os trophées e conquistas.


Da forma como foi implementada, essa extensão de horas se mostrou mais castigo do que entretenimento. Onde Red Dead soube equilibrar uma narrativa cativante com diversão no meio do caminho, Odyssey acaba se perdendo em tempo morto e mecânicas cansativas. Sua forma de alongar a jogabilidade acaba tirando o prazer em vez de aumentá-lo, esvaziando as tantas horas necessárias de sentido lúdico.


Missões secundárias sem graça


As side quests de Odyssey diferem em muito das de Red Dead Redemption 2, que soube criar personagens cativantes e roteiros criativos para suas missões extras. Em RDR2 cada encontro memorável acrescentava à imersão no mundo aberto. Já em Odyssey, a enorme maioria das secundárias segue uma fórmula manjada e entediante. 


Invadir acampamentos inimigos, saquear tesouros em cavernas ou túmulos, eliminar capitães navales.. essas atividades acabam se tornando maçantes após poucas horas de jogo. Faltam diálogos interessantes para tornar os personagens envolvidos marcantes. São apenas figurantes sem personalidade que rapidamente se tornam descartáveis e esquecíveis após suas missões genéricas.


Mesmo quando tentam acrescentar um mínimo de história, as narrativas são mal escritas e entediantes. Não despertam interesse em saber o desfecho daquela side quest. Em contrapartida, em RDR2 era impossível não se interessar pelo destino de cada personagem colorido encontrado. Em Odyssey predomina a superficialidade e a falta de criatividade nos roteiros das missões secundárias.


Com personagens tão planos e atividades repetitivas, as horas extras de Odyssey acabam se tornando pura perda de tempo, sem acrescentar valor à imersão ou diversão do jogador. Faltou cuidado para torná-las atraentes assim como seus concorrentes souberam fazer.


Um mundo aberto vazio


Embora o mapa de Odyssey seja imenso em tamanho, nele predomina o vazio e a falta de atividades significativas fora das áreas urbanas. As cidades, como Atenas e Esparta, são detalhadas e bem construídas, porém representam menos de 10% da extensão total. Os outros 90% se resumem a estradas alongadas atravessando matagais sem graça. 


Diferentemente do cativante mundo vivo de Red Dead, onde sempre aconteciam eventos aleatórios ou encontros marcantes, galopar pelo mapa de Odyssey é pura monotonia. Não há adversidades que tornem as jornadas interessantes, apenas animais esporádicos ou acampamentos ocasionais para saquear. O resto é vazio, sem motivo para exploração além de ir do ponto A ao B.


Até mesmo pelas cidades, falta vida e interatividade. Os NPCs se comportam como fantoches sem alma, repetindo seus caminhos e diálogos como gravados. Em um mundo aberto tão amplo, faltou detalhe e qualidade nas pequenas experiências que poderiam preencher esses vazios e fazê-lo respirar de fato. Ao invés disso, predomina a atmosphera morta e desinteressante.


Stealth ignorado

Nenhum jogo da série Assassin's Creed captura tão bem a essência dos Assassinos quanto a mecânica de stealth. No entanto, em Odyssey ela é relegada a segundo plano. Seu sistema de detecção é inconsistente, com inimigos te avistando de lugares improváveis com facilidade. 


 Com equipamentos e nível fracos, é quase impossível realizar abordagens furtivas sem ser detectado. O jogo incentiva enfrentamentos diretos ao invés de sigilo, tirando a graça de planejar assassinatos cuidadosos. Mecânicas de parkour e escondites que eram marca da série também perdem relevância.


Nas missões principais é preciso entrar em combate para conseguir progresso já que a detecção está desbalanceada. Já nas secundárias a repetição torna o stealth maçante. Faltou atenção aos detalhes e equilíbrio que tornassem a abordagem furtiva uma opção viável e prazerosa durante toda a jogatina.  


O uso da inteligência e das habilidades de um assassino deveria ser algo que se desenvolvesse ao longo do jogo, e não algo esquecido em prol do combate direto. A ênfase nos elementos RPG tirou o foco do que é central à franquia, ignorando o que melhor a definia.


Uma história que perde o fôlego


A narrativa de Odyssey começa promissora, apresentando uma época histórica rica e personagens com potencial para uma trama interessante. No entanto, conforme avança os capítulos, a história principar se torna cada vez mais previsível e genérica. 


Perde em qualidade e em profundidade. Diálogos antes envolventes derivam para opções superficiais que pouco mudam o rumo dos acontecimentos. Personagens como Hérodoto se tornam rapidamente enfadonhos, repetindo frases prontas sem carisma. Falta o poder de surpreender típico das melhores narrativas. A grande maioria das missões se torna irreconhecível, sem qualidades que facilitem se lembrar de seus detalhes. A trama principal simplesmente desinfla e esvazia ao longo da extensa jogatina.


Personalidade ausente 


Assassin's Creed Odyssey tenta imitar várias franquias de sucesso em seus elementos de jogabilidade e narrativa. Contudo, acaba por não ter uma identidade própria definida. 


Por um lado, busca a amplitude e diversidade temática de The Witcher 3, mas esquece que o que faz Witcher brilhar é seu universo rico em detalhes e seus personagens marcantes. 


Também tenta o combate cerrado e personalizável de jogos como God of War e Shadow of Mordor. Porém, falta o equilíbrio e a jogabilidade afiada que tornam esses títulos referência em suas mecânicas.


Ao juntar elementos de vários gêneros diferentes de forma desbalanceada, Odyssey acaba por não se aprofundar e se destacar em nenhum deles. Pouco aproveita da herança de mundos vivos e stealth da própria série Assassin's Creed. 


Faltou ousadia para inovar em vez de imitar. Uma identidade própria e foco em seus pontos fortes poderiam elevar Odyssey a um patamar superior, e não deixá-lo como uma sombra pálida de franquias mais caprichadas.


Divertimento em meio aos defeitos


Por mais que Assassin's Creed Odyssey tenha graves falhas em suas mecânicas e mundo, é impossível negar que é capaz de proporcionar momentos agradáveis. 


Ignorando as horas de grinds e as limitações do jogo, é possível desfrutar de atividades como invadir fortes inimigas utilizando apenas a abordagem furtiva, rastreando e assassinando alvos com sigilo. Roubar recursos e equipamentos luxuosos também traz uma dose de satisfação, ainda mais quando customizamos nossa personagem com belas armaduras.


Em meio aos defeitos, a mitologia grega e a imagética visual cativante conseguem entreter. Tomando o jogo como uma obra mais superficial, é capaz de oferecer algumas horas de diversão aqui e ali, ainda mais em seu modo multijogador. O problema é que se perde a possibilidade de ser lembrado como um grande jogo quando não soube aprofundar seu potencial.

Danilo Medeiros
Recém formado em R.H e Administrador da Overcentral Instagram: @danilopablolima
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