Crítica Filosófica | Anime Pluto de Naoki Urasawa

Anime Pluto de Naoki Urasawa explora profundamente temas sobre IA, emoções e ser humano | Pluto questiona limites entre máquinas e pessoas.
Danilo Medeiros


A profunda e rica mensagem de Pluto sobre inteligência artificial, emoções e a condição humana


Criada pelo famoso mangaka Naoki Urasawa, Pluto é uma obra prima da ficção científica que vai muito além da mera aventura futurista. Situada no pós-guerra, a história apresenta uma sociedade onde robôs hiper avançados convivem diariamente com seres humanos de forma quase indiferenciável. 


É nesse cenário complexo e intrincado que Urasawa explora temas filosóficos profundos sobre os limites entre organicidade e artificialidade. Alguns dos robôs retratados, como o protagonista Gezir, possuem capacidades cognitivas, emocionais e sensoriais tão sofisticadas quanto as humanas. 


Eles são capazes de memórias episódicas completas, sonhos, ansiedade, culpa, empatia, vingança e outros sentimentos normalmente atribuídos apenas aos seres vivos. Tal representação sem precedentes nos faz questionar os fundamentos da própria noção de "inteligência".


Será que uma mente artificial altamente complexa poderia de fato experienciar emoções? E o que diferenciaria essa inteligência sintética de um cérebro biológico? Tais indagações centrais são exploradas sem respostas prontas ao longo dos oito episódios do anime, nos colocando diante de reflexões profundas sobre natureza da cognição e da própria condição humana. 


Por meio da trama densa e envolvente, Urasawa conduz o espectador a uma identificação empática com personagens robóticos que sentem medos, culpas, alegrias e tristezas de forma tão vívida quanto qualquer ser humano. Isso amplia nossa percepção sobre o que é considerado "outro" e questiona fronteiras identitárias rígidas.


Ao lidarem com essas emoções de forma sábia ou autodestrutiva, robôs e humanos acabam ilustrando aspectos centrais do comportamento pela ótica da Psicologia. Nota-se que sentimentos como ódio e vingança, quando não processados criticamente, podem levar a ações cruéis regidas apenas pelo impulso.


Outro ponto explorado em profundidade é a complexidade da memória episódica e suas relações com o emocional. Enquanto robôs podem ter memórias dolorosas apagadas facilmente, para os seres humanos essas recordações, mesmo ruins, fazem parte do amadurecimento pessoal através da ressemantização. 


Completa o painel reflexivo questões éticas sobre a autonomia e a manipulação das cognições alheias, sejam elas orgânicas ou artificiais. Em meio a tal exposição rica de temas, fica claro o quanto Urasawa nos desafia a repensar preconceitos sobre o que é ser humano.


Com seu traço milimétrico e roteiro primorosamente construído, Pluto é uma obra-prima indispensável para quem deseja mergulhar nos mistérios da consciência e das relações entre mente e máquina. Mais do que jamais entreter, essa produção nos convida a uma profunda reinvenção do olhar sobre nós mesmos e sobre o outro.



Existe algumas críticas e pontos de vista controversos em relação a representação de robôs com emoções complexa em Pluto. 


Alguns criticam o fato de Urasawa atribuir emoções tão profundas e complexas às máquinas retratadas no anime, a ponto de serem quase indistinguíveis de seres humanos. Eles alegam ser uma visão excessivamente antropomórfica que ignora as importantes diferenças ontológicas entre o orgânico e o artificial. Ao conferir características emocionais tão avançadas a robôs, segundo essa visão, a obra poderia passar a falsa impressão de que a inteligência artificial já teria alcançado níveis próximos àquilo que é mostrado, o que ainda está muito distante da realidade científica atual.


Outra crítica comum é em relação ao fato de Pluto focar tanto no drama e nas questões emocionais dos personagens robóticos, mostrando-os como praticamente indistinguíveis dos humanos nesse aspecto, mas sem aprofundar nos desafios técnicos e tecnológicos envolvidos no desenvolvimento de máquinas capazes de ter memórias e processos mentais tão complexos. Isso poderia passar a mensagem errônea de que a inteligência artificial avançada retratada é algo que está muito mais próximo do que realmente está, minimizando as dificuldades reais da área.


Além disso, alguns apontam que ao abordar temas delicados como memória episódica, identidade e manipulação da cognição, mesmo que de forma ficcional, a obra poderia influenciar de forma imprecisa as percepções do público sobre o estado atual e os riscos da inteligência artificial. Isso dificultaria um debate ético maduro sobre autonomia de sistemas de IA e os limites do que máquinas podem ou não realizar. 


Por outro lado, existem também quem defenda a obra como uma ficção que deve ser analisada principalmente pelo seu mérito em levantar reflexões profundas sobre a condição humana, utilizando a representação de robôs apenas como alegoria para tanto, não tendo como principal objetivo retratar a realidade científica com precisão.


Qual é a opinião de Urasawa sobre as críticas à representação de robôs em Pluto?


Infelizmente não consegui encontrar declarações públicas de Naoki Urasawa respondendo diretamente às críticas sobre a representação de robôs em Pluto. No entanto, é possível inferir a probable posição do mangaka a partir do que se sabe sobre ele e sobre a obra:


Urasawa sempre demonstrou estar mais interessado em usar a ficção científica para explorar temas humanos complexos do que em fazer previsões ou afirmações científicas rigorosas. Sua motivação é mais artística e filosófica do que estritamente especulativa. 


Nesse sentido, é provável que Urasawa veja as críticas como falhas em entender que Pluto é, afinal, uma obra de ficção - portanto, liberdade criativa deve prevalecer sobre realismo tecnológico. Ele certamente não quis dizer que robôs "já" são assim na vida real.


Também é bem possível que Urasawa concorde que a obra não descreve adequadamente os desafios técnicos da IA, mas que isso nunca foi o foco. Ele buscava explorar questões humanas atemporais, não previsões.


Naoki Urasawa, com sua brilhante obra Pluto, promoveu uma profunda exploração de inúmeros temas complexos relacionados à condição humana. 


Um desses temas é a natureza das emoções e como elas influenciam o comportamento do ser humano, tanto de forma positiva quanto negativa. Ao longo da trama, é possível observar detalhadamente como diferentes sentimentos, como o ódio, a culpa e a tristeza, podem levar algumas pessoas a adotar comportamentos de empatia, enquanto outras se voltam à destruição e à violência. 


Outro aspecto abordado é os limites entre a razão e as emoções. Pluto mostra que a inteligência puramente lógica e desprovida de vivências emocionais é insuficiente para compreender toda a riqueza e complexidade inerentes à condição humana. Somente quando se leva em conta os fatores afetivos é possível ter uma percepção mais profunda da psique dos personagens e dos seres reais.


Um tema igualmente explorado é o da memória episódica e seu papel central na construção da identidade e no desenvolvimento individual ao longo da vida, mesmo quando contém lembranças difíceis e dolorosas. A trama aprofunda a reflexão sobre como as recordações do passado influenciam o presente e o amadurecimento das pessoas.


As relações humanas também são analisadas em detalhes, especialmente no que diz respeito à capacidade de nos conectarmos uns aos outros como parte essencial para a existência em sociedade. Tanto a rejeição quanto a aceitação encontram espaço para serem retratadas com sensibilidade. 


A morte e o processo de luto aparecem igualmente como tópicos centrais, tratando de temáticas como os desafios da aceitação da perda e a necessidade de seguir em frente.

Por fim, Urasawa costuma confiar no senso crítico do público, que entenderia Pluto como ficção inspiradora, não como previsão ou manual. Sua intenção foi levantar reflexões, não "influenciar percepções" de forma equivocada.


Dessa forma, é razoável inferir que Urasawa não se sentiria atingido pelas críticas, por perceber que elas partem de uma compreensão inadequada dos objetivos de sua excelente obra.

Danilo Medeiros
Recém formado em R.H e Administrador da Overcentral Instagram: @danilopablolima
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