Crítica de Armadilha (2024) | O Suspense Tenso de Shyamalan com Josh Hartnett

Danilo Medeiros


O retorno de M. Night Shyamalan com "Armadilha"


M. Night Shyamalan, o cineasta conhecido por suas reviravoltas inesperadas e filmes que dividem opiniões, está de volta com seu mais novo suspense, "Armadilha" (Trap). Para quem já está familiarizado com o estilo do diretor, o filme traz aquela sensação de montanha-russa, com altos e baixos típicos de sua filmografia. Alguns momentos prendem a atenção, enquanto outros podem parecer mais arrastados e até frustrantes. No entanto, é inegável que Shyamalan continua a ser um dos diretores que mais atraem a curiosidade do público, justamente por essas oscilações.


Desta vez, em "Armadilha", Shyamalan nos apresenta uma história que mistura drama familiar com a tensão de um thriller policial. O protagonista é Cooper, um homem de 40 e poucos anos que leva sua filha adolescente, Riley, para assistir a um show da popstar Lady Raven. O que deveria ser uma noite de diversão para a jovem, que é obcecada pela cantora, acaba se tornando uma verdadeira armadilha quando a polícia cerca o estádio em busca de um serial killer, conhecido como "o Açougueiro". E é nesse cenário que o suspense começa a se desenrolar, com Cooper percebendo que algo está errado e o cerco ao assassino se aproximando cada vez mais.


O interessante em "Armadilha" é que, diferente do que se espera de Shyamalan, o filme não se apoia tanto na famosa reviravolta, o que pode surpreender quem já está acostumado a esse estilo. Mas, ainda assim, o diretor consegue manter o suspense e a tensão no ar, principalmente com o uso de câmera e a exploração minuciosa dos cenários do show.


A direção de Shyamalan e a construção da tensão


A direção de Shyamalan é um dos pontos altos do filme. Ele faz questão de nos colocar dentro do show de Lady Raven, usando a estrutura grandiosa do estádio como parte essencial da trama. O palco, as luzes, os bastidores e até os corredores do local são explorados de maneira quase obsessiva pelo diretor. Essa escolha não é apenas estética, mas também narrativa, já que é por meio dessa ambientação que vamos sentindo, aos poucos, a claustrofobia e o perigo iminente.


Enquanto o show acontece, a tensão vai crescendo, tanto para Cooper quanto para o público. Ele começa a notar a movimentação suspeita da polícia, e o desconforto vai se transformando em uma sensação de perigo iminente. Essa é uma das grandes forças do filme: a maneira como Shyamalan nos faz acompanhar o raciocínio do protagonista, suas suspeitas e medos, como se estivéssemos ao lado dele o tempo todo.


Além disso, a atuação de Josh Hartnett como Cooper é digna de nota. Ele consegue transmitir de forma convincente a dualidade de seu personagem: o pai amoroso que está feliz por proporcionar esse momento à filha e, ao mesmo tempo, o homem que carrega um grande segredo. À medida que o filme avança, essa tensão interna vai ficando cada vez mais evidente, e Hartnett entrega uma performance sólida, especialmente nos momentos de maior paranoia e desconforto.


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Críticas e elogios à narrativa de "Armadilha"


Por outro lado, nem tudo é perfeito em "Armadilha". Embora a construção do suspense seja interessante e a ambientação bem trabalhada, o filme acaba caindo em alguns momentos de marasmo, principalmente na sua primeira metade. A insistência de Shyamalan em explorar o show de Lady Raven, embora visualmente impressionante, faz com que a trama pareça estagnada em certos pontos, como se o filme estivesse se alongando mais do que o necessário.


O próprio desenvolvimento da relação entre Cooper e sua filha, que começa de forma promissora, vai perdendo força conforme a narrativa avança. O que poderia ser um dos pontos emocionais mais fortes do filme acaba ficando em segundo plano, sem grandes desdobramentos, o que pode frustrar parte do público que esperava mais profundidade nesse núcleo.


Outro ponto que pode dividir opiniões é a participação de Saleka Night Shyamalan, filha do diretor, que interpreta Lady Raven. Além de atuar, Saleka também compôs as músicas que sua personagem canta no filme. Embora sua performance musical seja competente, sua atuação dramática deixa a desejar em alguns momentos-chave, o que enfraquece a narrativa em certos pontos.


 O jogo de gato e rato de Cooper


À medida que a trama avança, o jogo de gato e rato entre Cooper e a polícia vai se intensificando. E é nesse momento que Shyamalan realmente brilha. A tensão vai crescendo de forma palpável, com Cooper tentando despistar as autoridades de todas as maneiras possíveis. O personagem, que já havia demonstrado sinais de culpa, agora precisa usar toda sua inteligência para não ser capturado.


O roteiro faz questão de brincar com a expectativa do público. Sabemos que Cooper está escondendo algo, mas Shyamalan faz questão de não nos dar todas as respostas de imediato. Há momentos em que ficamos nos perguntando até onde vai a culpa de Cooper e o que mais está em jogo. Essa dúvida é mantida até os momentos finais do filme, quando finalmente tudo é revelado.


Para quem gosta de um bom suspense psicológico, "Armadilha" oferece alguns momentos realmente tensos, especialmente nas cenas em que Cooper está prestes a ser descoberto. Esses momentos são potencializados pela direção de Shyamalan, que sabe como usar o silêncio e os pequenos detalhes para criar um clima de paranoia crescente.


Vamos continuar a análise da mais recente obra de M. Night Shyamalan, “Armadilha”. Como mencionamos anteriormente, o filme traz uma mistura de elementos característicos do diretor, com algumas tentativas de subversão. Para alguns fãs, essa abordagem pode ser refrescante, enquanto para outros, acaba sendo um ponto de frustração.


A trama central: entre a previsibilidade e o desconforto


O cerne de “Armadilha” gira em torno de uma premissa relativamente simples — a caça a um serial killer no meio de um show lotado. Como vimos, Cooper, o protagonista interpretado por Josh Hartnett, é um pai aparentemente comum, que, aos poucos, revela-se uma figura muito mais sombria. A tensão do filme se constrói em torno de sua tentativa de escapar das forças policiais enquanto sua filha está alheia ao verdadeiro caráter do pai.


Shyamalan, com sua habitual habilidade em criar suspense, nos apresenta cenas que, à primeira vista, parecem ser apenas o cotidiano de um show, mas, sob a superfície, escondem uma iminente sensação de perigo. O jogo de câmeras e a forma como a música é usada para intensificar os momentos de tensão são elementos que remetem ao melhor do cineasta, lembrando seus filmes mais bem-sucedidos, como *O Sexto Sentido* e *Sinais*.


No entanto, o filme sofre em alguns pontos pela previsibilidade da trama. A revelação de que Cooper é o açougueiro não chega a ser uma surpresa — como o próprio marketing indicava. Talvez o verdadeiro desafio de “Armadilha” seja, então, sustentar o interesse do espectador quando o mistério central não é mais o foco, e sim a fuga do protagonista.


Josh Hartnett: uma performance sólida


Um dos grandes destaques do filme é, sem dúvida, a atuação de Josh Hartnett. O ator consegue transmitir de forma convincente a dualidade de Cooper: de pai amoroso a um homem atormentado por seus próprios demônios. A transição entre essas duas facetas é suave e, ao mesmo tempo, perturbadora, à medida que vemos o personagem perder o controle ao longo do filme.


As interações de Hartnett com a jovem atriz que interpreta sua filha, Riley (interpretada por uma promissora atriz mirim), são carregadas de tensão e emoção. O vínculo entre pai e filha é estabelecido logo no início da trama, mas conforme a narrativa avança, o filme falha em aprofundar essa relação. Em vez disso, ela acaba se tornando um pretexto para o suspense e os momentos de ação, o que pode ser uma oportunidade perdida para uma exploração mais emocional do impacto dos crimes de Cooper em sua família.


A família Shyamalan no elenco


Outro aspecto curioso de “Armadilha” é a presença de Salea Night Shyamalan, filha do diretor, no papel da popstar Lady Raven. Embora a inclusão de familiares em seus filmes não seja novidade — M. Night Shyamalan já fez diversas aparições em suas obras —, o papel de Salea neste filme é mais significativo. Além de interpretar uma personagem central na trama, ela também contribuiu com as músicas cantadas por Lady Raven.


Essa escolha, embora interessante, não deixou de gerar controvérsia entre os fãs. Muitos argumentam que a performance de Salea como atriz deixa a desejar, especialmente em cenas que exigem uma carga emocional maior. Seu desempenho no palco é convincente como uma popstar, mas quando o roteiro demanda mais profundidade, há uma sensação de que algo se perde, e a tensão que deveria ser intensificada em torno de sua personagem não se concretiza como deveria.


A direção de Shyamalan: altos e baixos


Quando falamos da direção de M. Night Shyamalan, há um aspecto que não pode ser ignorado: ele é um cineasta com uma assinatura visual muito forte. Em “Armadilha”, isso fica claro. O uso de planos longos e a exploração dos cenários do estádio onde acontece o show são elementos que destacam a habilidade de Shyamalan em criar um ambiente opressor e claustrofóbico.


No entanto, essa insistência em mostrar o show e o estádio repetidas vezes, quase como um personagem à parte, pode ser uma faca de dois gumes. Se, por um lado, temos uma ambientação que contribui para a construção da tensão, por outro, há momentos em que o filme parece se arrastar, e o foco excessivo no show torna-se cansativo.


Mesmo com esses problemas, Shyamalan continua a demonstrar um controle sólido sobre o ritmo de suas cenas de suspense. Há momentos em que o diretor brilha, especialmente nas interações mais sutis entre Cooper e os policiais, ou nos olhares trocados entre os personagens secundários que, gradualmente, começam a desconfiar de algo.


As influências de Hitchcock e a construção de tensão


Como de costume, Shyamalan não esconde suas influências, e Alfred Hitchcock é uma presença constante em seus trabalhos. “Armadilha” não é diferente. A premissa de um homem comum em uma situação extraordinária, cercado por um ambiente que deveria ser seguro (um show lotado), mas que rapidamente se transforma em um campo de tensão e medo, é uma homenagem clara ao mestre do suspense.


O que difere Shyamalan de Hitchcock, no entanto, é a forma como ele escolhe abordar suas viradas narrativas. Enquanto Hitchcock era conhecido por revelar ao público o perigo antes dos personagens descobrirem, criando uma antecipação agonizante, Shyamalan costuma esconder suas cartas até o último minuto, tentando surpreender o espectador com reviravoltas inesperadas.


Em “Armadilha”, essa abordagem é um pouco mais contida. Embora haja uma tentativa de subverter as expectativas com a revelação do vilão logo no início, a tensão do filme se mantém em torno de como Cooper será descoberto, e não de quem ele é. Essa mudança na fórmula de Shyamalan é interessante, mas não atinge todo o seu potencial.


O Terceiro Ato: Revelações e Consequências


No terceiro ato de *Armadilha*, a tensão atinge seu clímax quando Cooper, cada vez mais encurralado, tenta fugir do estádio com sua filha Riley, enquanto o cerco das autoridades se fecha. O diretor M. Night Shyamalan mantém o ritmo elevado, alternando entre cenas de ação frenética e momentos de suspense psicológico, à medida que Cooper começa a perder o controle da situação.


Aqui, o filme tenta explorar o conflito interno de Cooper de maneira mais profunda. Ele se vê diante de um dilema moral: entregar-se e proteger a filha de uma vida de mentiras ou continuar sua fuga desesperada. Shyamalan, no entanto, não oferece uma resolução simples para esse dilema. Em vez disso, ele prolonga a tensão ao revelar que Riley, embora inocente, começa a perceber que há algo de errado com seu pai.


Essa descoberta gera uma série de confrontos emocionais entre Cooper e Riley, e o filme finalmente toca em uma questão importante que poderia ter sido explorada mais cedo: a relação distorcida entre pai e filha. No entanto, a forma como o roteiro lida com essa revelação é apressada, e o impacto emocional acaba diluído em meio à ação e à busca frenética de Cooper por uma saída.


A Virada Final: A Assinatura de Shyamalan


Como é de se esperar em um filme de M. Night Shyamalan, *Armadilha* traz uma virada final. No entanto, ao contrário de suas obras mais icônicas, a reviravolta aqui é mais contida e menos surpreendente do que o público pode esperar. Ao invés de um choque narrativo que redefine o filme, o que temos é uma conclusão que explora as consequências morais das ações de Cooper.


Na cena final, após uma série de eventos intensos, Cooper é confrontado pela polícia em uma sequência tensa. Enquanto ele tenta escapar, ele é pego em um ato de desespero, e Riley, observando a cena, toma a decisão de se afastar do pai para sempre. Essa escolha, silenciosa e dolorosa, carrega o peso emocional do filme, trazendo um encerramento agridoce para a história.


Ao optar por uma conclusão mais emocional e menos voltada para o choque, Shyamalan subverte suas próprias expectativas. A revelação final não é uma grande virada de trama, mas uma constatação: Cooper, apesar de todos os seus esforços para proteger sua filha, acabou destruindo o único vínculo que realmente importava para ele. É uma escolha ousada do diretor, mas que pode deixar alguns espectadores com a sensação de que faltou algo mais grandioso.


A Recepção Crítica e a Divisão Entre os Fãs


*Armadilha* chegou aos cinemas gerando debates intensos. Para alguns críticos, o filme representou um retorno de Shyamalan ao suspense psicológico com nuances que remetem a seus primeiros trabalhos, enquanto outros o consideraram uma obra menos inspirada, que carece da originalidade que o consagrou.


Fãs de longa data de Shyamalan podem sentir que, embora *Armadilha* tenha momentos de brilho, falta a coesão necessária para ser considerado um de seus melhores filmes. A trama é intrigante, mas previsível, e as reviravoltas, ainda que bem executadas, não possuem o impacto esperado. Ainda assim, o filme consegue manter uma tensão constante e entregar algumas reflexões sobre culpa, moralidade e os laços familiares, temas recorrentes na filmografia do diretor.


Uma Armadilha Para o Próprio Shyamalan?


Em *Armadilha*, M. Night Shyamalan parece estar preso entre duas abordagens: de um lado, o desejo de voltar ao estilo de suspense psicológico que o tornou famoso; do outro, uma tentativa de explorar novas formas de narrativa e subverter as expectativas do público. Essa dualidade, embora interessante, nem sempre funciona perfeitamente.


O filme tem seus méritos, especialmente nas atuações sólidas de Josh Hartnett e nas cenas de tensão bem orquestradas. No entanto, os problemas de ritmo e o roteiro um tanto previsível podem frustrar os espectadores que esperam uma obra à altura dos maiores sucessos de Shyamalan. *Armadilha* é um filme que desafia, mas também tropeça, refletindo um cineasta ainda em busca de um equilíbrio entre a fórmula que o consagrou e suas novas experimentações.


Ao final, talvez o título do filme seja uma metáfora para o próprio diretor: assim como Cooper está preso em sua armadilha, Shyamalan também parece estar tentando escapar de suas próprias expectativas e do legado que construiu.


Danilo Medeiros
Recém formado em R.H e Administrador da Overcentral Instagram: @danilopablolima
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