Clóvis de Barros, Inédita Pamonha 244 - Enfermidade da alma
Publicado por
Danilo Medeiros
Hoje, quero falar sobre um afeto muito comum, mas pouco debatido: o ciúme. O ciúme é uma paixão triste, um sentimento desagradável que todos gostariam de evitar. Ele é caracterizado por uma queda de potência e um rebaixamento da vida, que pode ser causado por um mundo percebido, imaginado ou ambos. O ciúme pressupõe um estado afetivo ideal de posse e resulta da cogitação sobre a possibilidade de perda dessa posse. Essa cogitação é uma suposição elaborada pelo próprio ciumento, que pode ser mais ou menos abastecida por indícios da realidade. A existência de um rival, seja ele específico ou genérico, é uma das principais ameaças à posse.
Montaigne, em seus ensaios, descreve o ciúme como uma enfermidade do espírito, uma patologia que afeta tanto o que sentimos quanto o que pensamos. O indivíduo ciumento é predisposto a identificar ameaças à sua posse, sejam elas diretas ou supostas. Qualquer coisa no mundo pode se tornar um foco de interesse para o amado possuído, transformando-se em uma ameaça à posse do ciumento. Montaigne afirma que, de todas as enfermidades do espírito, o ciúme é aquela para a qual tudo serve de alimento e nada serve de remédio. O ciumento encontra justificativas para a ameaça em qualquer coisa, desde um cabide até uma pessoa específica, para manter a crença na ameaça iminente.
O ciúme, como uma enfermidade do espírito, não se limita apenas à percepção de ameaças externas. Ele também envolve uma complexa rede de pensamentos e emoções internas que podem levar o indivíduo a um estado de constante ansiedade e desconfiança. A imaginação desempenha um papel crucial no ciúme. O ciumento pode criar cenários hipotéticos que reforçam sua crença na ameaça iminente. Por exemplo, a simples menção de um nome ou a presença de uma pessoa desconhecida pode desencadear uma série de pensamentos que culminam na crença de que a posse está em risco. Essa capacidade de imaginar ameaças onde elas não existem é uma característica marcante do ciúme.
Montaigne sugere que o ciúme é uma enfermidade para a qual nada serve de remédio. Isso significa que, independentemente das tentativas de racionalizar ou acalmar o ciumento, a crença na ameaça persiste. Essa persistência é alimentada pela necessidade do ciumento de justificar seus sentimentos. Sem a crença na ameaça, o ciumento pode sentir-se desorientado ou até mesmo louco, o que reforça ainda mais a necessidade de encontrar justificativas para o ciúme.
O ciúme pode ter um impacto devastador nas relações interpessoais. A constante desconfiança e a necessidade de controlar o amado possuído podem levar a conflitos e ao desgaste emocional de ambas as partes. O ciúme não é apenas um problema individual, mas também um problema relacional que afeta a dinâmica entre as pessoas envolvidas.
O ciúme é um afeto complexo que requer uma reflexão profunda para ser compreendido. Encorno os ouvintes a explorarem os ensaios de Montaigne e a refletirem sobre suas próprias experiências com o ciúme. A compreensão dessa enfermidade do espírito pode ajudar a mitigar seus efeitos negativos e a promover relações mais saudáveis e equilibradas.
Além de explorar o ciúme em suas diversas facetas, é importante também entender como ele se manifesta em diferentes contextos culturais e sociais. O ciúme pode variar significativamente de uma cultura para outra, influenciado por normas sociais, valores e expectativas. Em algumas culturas, o ciúme pode ser visto como uma expressão de amor e compromisso, enquanto em outras, pode ser considerado uma falta de confiança e um sinal de insegurança.
A tecnologia moderna também desempenha um papel crucial na forma como o ciúme se manifesta hoje em dia. As redes sociais, por exemplo, podem amplificar sentimentos de ciúme ao proporcionar uma visão constante e detalhada da vida do amado possuído. A facilidade de acesso a informações e a possibilidade de interação com outras pessoas podem criar um ambiente propício para a cogitação de ameaças imaginárias.
Para lidar com o ciúme de maneira saudável, é essencial desenvolver uma comunicação aberta e honesta com o parceiro. A confiança mútua é fundamental para mitigar os efeitos negativos do ciúme. Além disso, a prática da auto-reflexão pode ajudar o indivíduo a identificar as raízes de seus sentimentos de ciúme e a trabalhar para superá-los.
O ciúme é uma experiência humana complexa que requer compreensão e empatia. Ao reconhecer suas múltiplas facetas e impactos, podemos trabalhar para construir relações mais saudáveis e equilibradas, livres dos efeitos debilitantes dessa enfermidade do espírito.
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Danilo Medeiros
Recém formado em R.H e Administrador da Overcentral
Instagram: @danilopablolima