Continuando sua série de adaptações no universo de TRON, a Bithell Games, conhecida por Thomas Was Alone e The Solitaire Conspiracy, está prestes a lançar TRON: Catalyst, um jogo de ação e aventura isométrico banhado em néon. Tivemos a oportunidade de experimentar a primeira hora do jogo antes de seu lançamento em junho. Embora prometa uma construção de mundo envolvente dentro da clássica franquia da Disney, ainda há um caminho a percorrer para que sua jogabilidade conquiste os jogadores de forma definitiva.
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TRON: Catalyst promete ação isométrica e loops temporais no universo TRON. Confira detalhes do novo jogo da Bithell Games antes do lançamento! |
TRON: Catalyst coloca os jogadores no papel de Exo, um programa rebelde e engenhoso que, inesperadamente, adquire um poder conhecido como Glitch. Essa habilidade causa instabilidade na Arq Grid — o ciberespaço digital onde o jogo se passa —, fazendo com que o mundo entre em um loop temporal do qual apenas Exo tem consciência. A missão do protagonista, então, é quebrar esse ciclo e sobreviver ao submundo criminoso da Arq Grid.
Embora muitos elementos de TRON: Catalyst pareçam inspirados no gênero roguelike (como a jogabilidade isométrica e os loops temporais), seria um equívoco classificá-lo como tal. Os loops são narrativos, todos os upgrades são permanentes, e não há "tentativas" aleatórias. Nos primeiros capítulos, o jogo se apresenta como um mistério temporal, no qual o jogador deve explorar o ambiente e aproveitar o conhecimento adquirido para quebrar o ciclo.
O combate em TRON: Catalyst segue um estilo brawler, com confrontos corpo a corpo e à distância utilizando o icônico disco da franquia. O sistema de luta, por enquanto, parece um tanto básico, contando com combos de luz, paradas, esquivas e arremessos do disco. As animações têm um peso satisfatório, mas ainda não alcançam a fluidez e velocidade que outros jogos isométricos de ação já dominaram. Em certos momentos, as batalhas ficam caóticas, e a opção de fugir usando a light cycle — uma das marcas registradas de TRON — adiciona um dinamismo interessante. No entanto, a esperança é que a versão final traga mais profundidade e variedade, já que os upgrades disponíveis nas primeiras horas não impactam significativamente a experiência.
A narrativa e a construção de mundo são onde TRON: Catalyst mais se destaca. Bithell Games já havia demonstrado sua habilidade nesse aspecto com TRON: Identity, e aqui vemos sinais de que a equipe está expandindo ainda mais o universo digital da franquia. A estrutura de time-loop permite que o jogador explore diferentes abordagens para resolver problemas, lembrando um pouco a liberdade de Hitman, ainda que o caminho principal pareça mais linear do que se esperaria de um jogo focado em escolhas e consequências. Ainda assim, esse elemento ajuda a quebrar a monotonia de simplesmente ir do ponto A ao B, dando uma sensação de progressão mesmo dentro do ciclo temporal.
O visual do jogo é outro ponto alto. A arte em sprites 2D durante os diálogos, reminiscente de visual novels, ganha vida com a adição de dublagem — um upgrade em relação ao título anterior da desenvolvedora no universo TRON. O design dos personagens é marcante, capturando a essência cyberpunk da franquia, com cores vibrantes e silhuetas distintas. Exo, o protagonista, tem uma presença carismática, enquanto outros personagens secundários, como um informante de tonalidade verde-neon, se destacam imediatamente. Essa paleta de cores ajuda a diversificar o cenário, que naturalmente tende a ser dominado pelo azul característico de TRON.
Apesar dos pontos positivos, ainda há questões em aberto sobre TRON: Catalyst. A profundidade da experiência, o desenvolvimento do mistério central e a evolução do combate são aspectos que só poderão ser totalmente avaliados no lançamento. Bithell Games tem um histórico sólido, e o que foi mostrado até agora é suficiente para manter a expectativa, mesmo que algumas mecânicas precisem de mais polimento.
A franquia TRON já experimentou diversas abordagens nos videogames, cada uma tentando capturar a essência do universo digital de maneiras distintas. TRON: Catalyst se posiciona de forma interessante nesse legado, trazendo uma mistura de elementos que o diferenciam de seus predecessores. Enquanto TRON 2.0 (2003) apostou em um FPS com visão em primeira pessoa e TRON: Evolution (2010) explorou um combate em terceira pessoa com parkour, Catalyst opta por uma perspectiva isométrica, focando mais em estratégia e resolução de quebra-cabeças temporais do que em ação frenética. Essa escolha coloca o jogo em um espaço único, mais próximo de TRON: Identity (2023) em termos de narrativa, mas com uma jogabilidade completamente diferente.
TRON: Identity, também desenvolvido pela Bithell Games, era uma visual novel com elementos de investigação e diálogos ramificados, priorizando a construção de personagens e um enredo denso. Catalyst, por outro lado, mantém a escrita afiada da equipe, mas a transição para um gênero de ação isométrica levanta questões sobre como a narrativa será equilibrada com a jogabilidade. Enquanto Identity permitia que o jogador mergulhasse em discussões filosóficas sobre identidade e consciência digital, Catalyst parece mais preocupado em criar tensão através de seus loops temporais e combates. Ainda assim, a influência do trabalho anterior da Bithell Games é perceptível, especialmente na forma como os personagens são apresentados e no tom melancólico do mundo.
Já TRON: Evolution, desenvolvido pela Propaganda Games, era um título mais voltado para o grande público, com sequências de perseguição em light cycles, batalhas em escala maior e uma história que servia como ponte entre os filmes TRON (1982) e TRON: Legacy (2010). Embora Catalyst compartilhe a mesma estética neon e a mitologia de programas e usuários, seu escopo parece mais contido, concentrando-se em uma narrativa pessoal em vez de um conflito épico. Isso pode ser uma vantagem, já que permite um desenvolvimento mais íntimo de seus personagens, mas também pode deixar fãs da franquia ansiosos por mais ação em grande escala.
Outro ponto de comparação é a representação do Grid. Enquanto Evolution tentava recriar fielmente os cenários dos filmes, com arenas amplas e linhas de reconhecimento de terreno brilhantes, Catalyst parece adotar uma abordagem mais estilizada, quase como uma homenagem ao design digital dos anos 80, mas com uma roupagem moderna. A Arq Grid tem uma atmosfera mais sombria e menos polida, o que combina com a temática de submundo digital e conspirações. Se em Evolution o jogador se sentia um herói em uma missão grandiosa, aqui a sensação é de se infiltrar em um sistema corrompido, onde cada avanço exige planejamento e adaptação.
No fim, TRON: Catalyst não tenta ser uma experiência massiva como Evolution, nem puramente narrativa como Identity. Em vez disso, busca um meio-termo, mesclando ação, estratégia e uma história que se desdobra em loops temporais. Resta saber se essa combinação vai agradar tanto fãs de jogos mais reflexivos quanto aqueles que esperam por uma experiência de TRON com mais adrenalina. Se conseguir equilibrar esses elementos, pode se tornar um dos títulos mais memoráveis da franquia — mas, por enquanto, ainda há espaço para evolução antes do lançamento.
TRON: Catalyst chega em 17 de junho para PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch. Com sua mistura de ação, quebra-cabeças temporais e um mundo visualmente impressionante, o jogo tem potencial para ser uma adição valiosa ao universo de TRON — resta saber se cumprirá essa promessa em sua totalidade.