Parece que a Microsoft anda com um “toque de Midas” invertido quando o assunto é gerenciar franquias de jogos, não é mesmo? Você já parou para pensar como uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, com um poder financeiro absurdo, consegue, vez após vez, transformar ouro em… bem, em algo bem menos valioso? A recente aquisição da Activision Blizzard e, consequentemente, da franquia Call of Duty, trouxe à tona uma preocupação que muitos fãs e até veteranos da indústria compartilham: será que a Microsoft está fadada a enterrar ainda mais o que já vinha definhando? Na visão de ninguém menos que Glenn Schofield, diretor responsável por títulos clássicos como o Dead Space original e Call of Duty: Modern Warfare 3 (o brabo de 2011!), a situação é mais do que preocupante – é um sinal de que o “toque de Midas” da empresa está, na verdade, funcionando ao contrário. E cá entre nós, olhando para o histórico recente de lançamentos como Redfall e a sequência morna de Halo, fica difícil não dar razão a ele…
Pois é, se a gente for olhar com calma, a fala do Glenn Schofield não é só um desabafo de um desenvolvedor ressentido – é um diagnóstico preciso de uma doença que vem corroendo não só a Activision, mas várias outras publishers sob a asa de gigantes corporativos. O que ele destacou, e que eu concordo plenamente, é que quando um estúdio é “assimilado” por uma empresa como a Microsoft, algo se perde no caminho: a identidade, a ousadia, e aquela chama criativa que fez a franquia brilhar em primeiro lugar.
E não é preciso ir muito longe para comprovar isso. Lembram da Bethesda? Na era do Xbox 360, era sinônimo de RPG imersivo e mundos abertos cheios de personalidade – Skyrim e Fallout eram praticamente religião para muitos de nós. Agora, dá uma olhada no que a Bethesda virou sob a gestão Microsoft: Redfall foi um fiasco monumental, e até o aguardado Indiana Jones parece ter caído em um limbo de expectativas baixíssimas. Parece que a receita agora é: compre o estúdio, padronize os processos, e esprema até sair o último centavo – mesmo que isso signifique lançar jogos sem alma, feitos por comitê.
E aí a gente cai na questão que o Schofield levantou: o que diabos está acontecendo com o talento desses estúdios? Será que os desenvolvedores veteranos, aqueles que entendiam a essência das franquias, foram colocados de escanteio? Pelo visto, sim. E pior: ele mencionou que o sistema de bônus – aquele incentivo que mantinha a galera motivada – mudou completamente. Agora, a lógica não é mais “faça um jogo incrível”, e sim “entregue dentro do prazo e do orçamento”. O resultado? Jogos que nascem velhos, sem coragem para inovar ou para chocar – como era o caso dos Modern Warfare originais, que não tinham medo de mostrar conflitos pesados e consequências reais.
Ah, e não me venham com a desculpa de que “jogo vendeu bem, então tá valendo”. Claro, Call of Duty ainda vende milhões, mas a pergunta que fica é: por quanto tempo? A crítica especializada já não engole mais as campanhas curtas e mal costuradas, e a comunidade está cada vez mais cansada de multiplayer cheio de microtransações e inovações que não inovam nada. O último Modern Warfare 3 (2023) foi um exemplo claro disso – nota 5 na média, cara! Nota 5! Isso é o mesmo que passar raspando na prova, e a gente sabe que raspando não se sustenta carreira
E aí, será que a Microsoft aprendeu com os próprios erros? Olha, eu tenho minhas dúvidas. Por um lado, eles têm o Game Pass, que é um serviço fantástico para nós, jogadores. Mas por outro, será que o foco excessivo no catálogo do Game Pass não está tirando o brilho de lançamentos AAA? Afinal, se o jogo já vai direto para o catálogo, qual a pressa para polir cada detalhe? É um conflito de interesses perigoso, e eu acho que a Microsoft ainda não soube equilibrar essa balança.
E não para por aí, pessoal. Se a gente for olhar para o histórico de aquisições da Microsoft, a coisa fica ainda mais preocupante. Lembram da Rare? Aquela lendária desenvolvedora responsável por joias como Banjo-Kazooie e Perfect Dark? Pois é… depois que foi comprada pela Microsoft, o que a gente viu? Um silêncio quase absoluto, com exceção de Sea of Thieves – que, convenhamos, demorou anos para encontrar seu público. É como se a empresa comprasse estúdios icônicos só para colocar na prateleira e exibir como troféu, sem saber muito bem o que fazer com eles depois.
E aí me vem a pergunta: será que o problema é o excesso de burocracia? A tal “assimilação” de que o Schofield falou? Porque, olha, quando um estúdio independente é engolido por uma corporação gigante, é natural que percam aquela agilidade e ousadia que tinham antes. As decisões passam a depender de reuniões intermináveis, aprovações de comitês e um foco desmedido em métricas – e não na diversão pura e simples, na experiência que a gente sentia quando jogava Halo pela primeira vez, arregalando os olhos para a grandiosidade daquilo tudo.
Falando em Halo… meu Deus, que franquia andou definhando, né? O Halo Infinite até tentou dar uma sobrevida, mas parece que faltou alma, faltou aquela narrativa épica que nos prendia desde o primeiro minuto. E o pior: a Microsoft parece não saber mais o que fazer com uma de suas IPs mais valiosas. Fica o anúncio atrás do anúncio, o vazamento atrás do vazamento, e o jogo que a gente quer – aquele que justifica ter guardado o Xbox – não chega nunca.
E aí eu te pergunto: será que o Game Pass, por mais incrível que seja para nós, jogadores, não está, sem querer, sabotando os próprios estúdios da Microsoft? Afinal, se o objetivo é alimentar um catálogo constante, será que a pressão por prazos curtos e conteúdo “regular” está falando mais alto do que a qualidade? É aquela velha história: é melhor lançar um jogo meia-boca no prazo, ou adiar para sair algo memorável? Pela lógica corporativa, a primeira opção quase sempre vence – e a gente sente na pele, com lançamentos que parecem ter saído da esteira, sem aquele polimento final que faz toda a diferença.
Ah, e não me esqueço do Fable… aquela recriação que a Playground Games assumiu e que até hoje a gente só viu um trailer cinemático. Cadê o gameplay? Cadê a confirmação de que vai ser tão incrível quanto a gente espera? O silêncio é ensurdecedor, e isso me preocupa. Porque a Microsoft, hoje, tem os estúdios, tem o dinheiro, tem o potencial – mas parece faltar a coragem de arriscar, de inovar, de surpreender.
No fim das contas, acho que o Schofield resumiu bem: a Microsoft tem, sim, um toque de Midas às avessas. E enquanto eles não perceberem que jogos são feitos de paixão, riscos e identidade – e não só de planilhas e metas trimestrais –, vamos continuar vendo franquias amadas murchando diante dos nossos olhos.
