Parece que a Xbox está vivendo um daqueles pesadelos que a gente só vê em filme de terror — e olha, não é exagero. Se você acompanha o mundo dos games, já deve ter percebido que a situação anda feia para o time verde. Os lançamentos de primeira linha, que antes eram sinônimo de qualidade e hype, hoje mal conseguem arranhar 200 jogadores simultâneos na Steam. Sim, você leu certo: 200 pessoas. É como se um jogo chamado Keeper, da Double Fine (os mesmos caras por trás de Psychonauts 2), tivesse simplesmente caído no esquecimento no mesmo dia do lançamento. E aí, me diz: quando foi a última vez que você ficou genuinamente animado com um exclusivo do Xbox? Pois é… A sensação é que a Microsoft está afundando em um buraco sem fundo, e o pior: sem saber como sair dele. Mas será que é só falta de sorte? Ou tem algo muito errado acontecendo nos bastidores?
Vamos falar sério sobre o Game Pass por um minuto. A ideia é brilhante: por um preço acessível (ou nem tanto, depois do aumento), você tem acesso a uma biblioteca enorme de jogos. É tipo um Netflix dos games — e quem não gosta de Netflix? Só que aqui mora um problema que a Microsoft parece estar ignorando: o valor percebido do jogo.
Pega o exemplo do Keeper: um jogo indie que custa R$ 100 na Steam. No Game Pass, é “de graça”. Aí você me pergunta: “Ué, mas isso não é bom?” Depende. Para o jogador, é ótimo. Para a desenvolvedora? Nem tanto. Se ninguém compra o jogo, como é que o estúdio vai justificar o investimento? Como vai sobreviver sem vendas diretas? A verdade é que a estratégia do Game Pass pode estar matando a base de jogadores dispostos a pagar por títulos menores.
E olha, não é como se todo mundo odiasse comprar jogos, mesmo com a assinatura ativa. Starfield chegou a 300 mil jogadores simultâneos na Steam no lançamento — e tava no Game Pass! Ou seja, tem jogo que consegue quebrar a lógica. Mas aí a gente cai em outro ponto: o jogo precisa gerar hype. Precisa ser desejado. E aí é que a Xbox tá falhando feio.
O Sumiço do Marketing
Fala a verdade: você viu alguma propaganda do Keeper? Algum anúncio no YouTube, um banner em algum site, um post patrocinado no Instagram? Eu também não. Parece que a Microsoft simplesmente jogou o jogo no catálogo do Game Pass e torceu para que os jogadores descobrissem sozinhos.
Isso me lembra aquele colega que faz um trabalho em grupo mas some na hora de apresentar. A Double Fine é um estúdio respeitado — lembra de Psychonauts 2? Pois é. Mas de que adianta ter talento se ninguém fica sabendo do seu jogo? A Xbox comprou estúdios bilionários, como a Bethesda e a Activision, mas não consegue nem promover um jogo indie com carinho. É como ter um carro turbinado e andar a 20 km/h.
E aí a gente se pergunta: será que o Keeper flopou só porque é um jogo “estranho”? Ou flopou porque ninguém sabia que ele existia? Eu arrisco dizer que foi mais a segunda opção.
O Preço e a Realidade Brasileira
É inegável que a relação entre o valor cobrado pelos jogos e a realidade econômica do Brasil tem criado um abismo cada vez maior entre a Xbox e seu público. Quando um título indie como Keeper é lançado por R$ 100, um valor que para muitos representa uma parcela significativa de um orçamento já apertado, a pergunta que fica não é se o jogo é bom, mas se ele é necessário. Em um país onde o salário-mínimo mal consegue cobrir as despesas básicas de uma família, gastar esse valor em uma experiência de poucas horas se torna um luxo quase irreal.
A estratégia de preços da Microsoft parece ignorar completamente a pirâmide social brasileira. Enquanto nos Estados Unidos ou na Europa um jogo a US$ 20 pode ser considerado um gasto acessível, aqui no Brasil esse mesmo valor, convertido sem qualquer ajuste de poder de compra, se transforma em uma barreira intransponível para a maioria dos jogadores. Isso sem falar nos impostos embutidos, que inflacionam ainda mais o preço final, fazendo com que o brasileiro precise desembolsar muito mais que um jogador de outro país para ter acesso ao mesmo produto.
Além do preço dos jogos avulsos, o recente aumento do Game Pass também acendeu um alerta para muitos assinantes. O serviço, que antes era visto como uma âncora de salvação para quem não podia comprar jogos completos, agora começa a pesar no bolso. Para o jogador casual, que talvez só tenha tempo para experimentar um ou dois títulos por mês, a conta não está fechando. A pergunta que muitos se fazem é: vale a pena manter uma assinatura que sobe de preço constantemente para acessar um catálogo onde os lançamentos mais aguardados estão cada vez mais raros?
Outro ponto crucial é a quase ausência da Microsoft no mercado formal brasileiro de consoles. A decisão de não vender oficialmente o Xbox Series X|S no Brasil obriga os jogadores a recorrerem ao mercado paralelo, onde os preços são inflados pela especulação e pela alta do dólar. Essa falta de compromisso com o público local envia uma mensagem clara: o Brasil não é uma prioridade. Enquanto isso, vemos outras empresas, como a Nintendo, mantendo presença oficial e, em alguns casos, até ajustando preços de jogos digitais em promoções para se alinhar melhor com a realidade econômica nacional.
O resultado dessa combinação perversa – preços altos, ausência de consoles oficiais e assinaturas mais caras – é um gradual afastamento da base de fãs. O jogador brasileiro é um dos mais apaixonados e engajados do mundo, mas sua lealdade está sendo testada diante de políticas que parecem ignorar sua realidade financeira. Muitos estão migrando para o PC, onde promoções são mais frequentes e acessíveis, ou simplesmente deixando de acompanhar os lançamentos, esperando que os jogos cheguem em serviços de assinatura mais tarde e por um custo menor.
A longo prazo, essa postura da Microsoft pode custar caro. O Brasil é um mercado com enorme potencial, mas que precisa ser cultivado com estratégias de preços inteligentes e um compromisso real com a base de consumidores. Ignorar a realidade econômica local não é apenas um tiro no pé; é um risco de perder uma geração inteira de jogadores que cresceram com a marca, mas que agora se veem incapazes de acompanhar seus custos. A pergunta que fica é: até quando a Xbox vai fechar os olhos para o que acontece fora da bolha dos países desenvolvidos?
A sensação que fica é a de que a Xbox está perdida no próprio ecossistema. Contratou gente nova para melhorar os processos internos? Ótimo. Mas e os jogos? Cadê o foco no que importa? Não adianta ter 50 estúdios se nenhum deles está lançando algo que faça a gente querer ligar o console.
A gente precisa de títulos que marquem época. Que façam a galera falar: “Nossa, preciso de um Xbox para jogar isso!”. Do contrário, vamos continuar nessa espiral de flops silenciosos — e aí, pode ser que o problema não seja mais só falta de marketing, mas falta de identidade.
 
 

 
                              
		 
		 
		 
		 
		 
		 
		 
		 
		 
		 
		 
		
 
		 
		 
		 
		 
		 
		 
		 
		 
		 
		 
		